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Pergunta:
Bom, queria que você começasse falando o nome completo, local e data de nascimento.
Resposta:
Perfeito. Meu nome é Paulo Roberto Mendes, eu nasci em 14 de novembro de 1982, na cidade de São Bernardo do Campo.
Pergunta:
Fala um pouco sobre esse lugar, sobre sua primeira infância, esse ambiente familiar...
Resposta:
Sim. Minha infância foi meio... Meio conturbada em relação a mudanças. Meus pais nunca tiveram uma residência fixa, então em alguns momentos eu me encontrava em Santo André, depois em São Bernardo... Apesar de ter nascido em São Bernardo, a maior parte da minha infância foi vivida em Santo André. Em uma das loucuras da minha família, nós fomos para Adamantina, no interior de São Paulo, vivemos durante um ano, na época do plano Collor, que meus pais tinham comércio e acabou não dando certo, ai retornaram para a cidade de São Bernardo, na qual eu vivi por mais dois anos. Entretanto, todo o meu ensino fundamental e médio foi em uma escola chamada Professor José Cauvitti Filho, uma estadual lá na cidade de Santo André, da qual eu guardo ótimas lembranças. O fato de os meus pais terem se separado em um período por volta de 2000, isso fez com que eu iniciasse meu trabalho, minha vida profissional muito cedo, aos 14 anos em uma lanchonete, depois de seis meses eu passei a trabalhar em uma loja de ferragens, também por seis meses, sempre ia para algum trabalho novo. E depois disso eu fui trabalhar em uma empresa de cobertores chamada Tongnato, muito antiga e que se localizava na Avenida Pereira Barreto, em São Bernardo do Campo. Sempre voltando para São Bernardo, né... De Santo André para o interior e acabava voltando para São Bernardo... Até ter uma oportunidade na UNIBANCO, o antigo UNIBANCO, também em São Bernardo, só que na estrada Samuel Aizemberg, mais próximo de Diadema. Foram dois anos na UNIBANCO, tive uma oportunidade na empresa Basf quando eu iniciei o curso de engenharia na universidade Metodista, na qual eu fiz por dois anos engenharia da computação por influência dos pais, a minha vontade sempre foi fazer direito, mas meus pais falavam: ‘Não. Área do direito está muito saturada, saí dessa, vai fazer alguma coisa mais relacionada à tecnologia', e foram dois anos de engenharia da computação na Metodista, mas a vontade sempre foi o direito que acabou... Falei para os meus pais: ‘Chega. Não vou dar sequencia nesse curso porque eu sei que eu não vou ter felicidade futura', e nesse período surgiram os vestibulares da direito de São Bernardo e da USCS que eram as mais próximas da nossa residência. Passei na de São Bernardo que era em um período diurno e passei para a USCS no período noturno. Como eu já estava empregado na Basf, que era uma empresa multinacional, de renome, na qual eu estava muito feliz com a minha posição de analista, acabei optando pelo período noturno para dar continuidade ao trabalho, e aí nasceu essa relação de amor pela instituição que dura... De 2002 até agora... 15 anos... 15 anos.
Pergunta:
Eu vou chegar ainda a USCS...
Resposta:
Está bom.
Pergunta:
Mas você falou das experiências do colégio...
Resposta:
Sim.
Pergunta:
Quais são as lembranças que você pode nos contar?
Resposta:
Relações de amizade, participação em grêmios estudantis desde a época do ensino fundamental, ensino médio... Eu me lembro de uma passagem em que o meu irmão e o amigo acabaram fazendo uma travessura e quebraram um vaso sanitário e foram encaminhados ao conselho de classe, no qual tinha a representação docente, discente, administrativa... E eu, com 12 anos já fazia parte dessa representação estudantil. [5'] E os três... O meu irmão e os dois amigos, um deles, por um incidente, acabou sendo expulso da escola na época, e eu acabei fazendo a defesa do meu irmão e de um amigo, que passaram a partir daquele momento a realizar atividades socioeducacionais para que não voltasse a cometer uma travessura, um delito como aquele, ainda que de pequeno porte. É uma lembrança muito marcante. E do trabalho, eu acho que devido a essa situação dos meus pais, eu não consegui curtir muito o período de infância, por ter que trabalhar e auxiliar nas despesas da casa, mas isso não é nenhum demérito, acho que só me fez uma pessoa mais preparada para enfrentar as dificuldades cotidianas.
Pergunta:
E esse período em Adamantina? Adamantina é lá no extremo de São Paulo?
Resposta:
De São Paulo. É lá onde tem uma faculdade que faz parte da associação das IMES né?
Pergunta:
É lá.
Resposta:
Foi apenas por um ano e meio ou dois anos... Sim, foi em 1990, 1991. Foi um período muito gostoso né, eu tinha entorno de oito anos, então não tinha muita preocupação com nada, eu me lembro de algumas travessuras, uma delas foi a qual estavam eu, meu irmão e dois amigos em uma bicicleta, eu acabei colocando o pé no meio do aro, tive uma fratura exposta... Então você viu que eu já tenho um problema com esse pé há algum tempo, isso não é de agora, é desde menino, nunca tinha pensado nisso, pode ser até por isso que sejam tão recorrentes os problemas com esse pé...
Pergunta:
_________
Resposta:
Doeu, né... [risos]
Pergunta:
Só de lembrar já da vontade de retrair a perna...
Resposta:
Mas foi uma época muito positiva por sair de um centro como o ABC e viver em uma cidade mais pacata. Eu me lembro de que a mudança para o interior, devido à redução de poluição e tudo mais... Eu tinha muitos problemas pulmonares, muita bronquite, com a mudança para o interior isso cessou e depois retornando ao ABC nunca mais tive asma, bronquite e nada, posso dizer que os ares de Adamantina foram incríveis para a melhora da minha saúde. Tenho boas lembranças daquela época também.
Pergunta:
Você citou no início também sobre o começo do trabalho né, gostaria que você falasse como um menino de 14 anos trabalhava em uma lanchonete, e toda essa trajetória até chegar ao caso da Basf, como analista.
Resposta:
Sim. Foi bastante impactante. Como eu disse o fato de os meus pais se separarem e não era falta de recursos na família, mas eu não queria dar trabalho de depender da minha mãe para me dar um dinheiro para o lanche ou para uma roupa... Então eu busquei essa atividade. Uma amiga indicou uma lanchonete que ficava na rua Tales dos Santos Freires, em São Bernardo, na região do bairro Baeta Neves e o seu Manuel, o dono de um barzinho, precisava de um rapaz para auxiliar com o atendimento ao público e eu acabei aceitando essa proposta. Aprendi a trabalhar na chapa, preparar coquetéis... Eu me lembro de um episódio em que eu fui preparar um lanche e tinha uma máquina de frios na qual eu acabei cortando um pedaço do meu dedo, saí correndo até a UBS do Baeta Neves, nós fizemos um curativo, depois o dedo voltou ao normal e tudo mais... Mas foi um período curto, de seis meses, até eu ter uma oportunidade em uma loja de ferragens, também na área de atendimento. Uma passagem interessante da qual eu me lembro dessa loja de ferragens chamada Sparfuso, que fica na rua Bom Pastor em Santo André, foi de que a dona da loja não tinha um panfleto, um banner, nenhuma identidade visual, e eu acabei montando... Isso com 14 anos e meio, 15 anos, montei uma arte no computador, passei para a Ana, ela gostou da ideia, mandou imprimir e há mais ou menos dois anos eu passei por lá e a arte visual permanece a mesma, claro que ela deu no caso uma ajustada e tudo mais, mas é uma boa lembrança, também na área de atendimento.
Pergunta:
Aí você não se machucou, né?
Resposta:
Aí não...
Pergunta:
Já fico até com medo...
Resposta:
Não. [risos] Ali não... [risos]
Pergunta:
___________
Resposta:
Não. Não. Lá realmente era muito tranquilo. Aprendi um pouquinho sobre medidas de parafuso, paquímetros e outros materiais para a área de construção [10']. Foi um aprendizado muito bom.
Pergunta:
Você estava no ensino médio ainda?
Resposta:
Isso... Na transição do ensino fundamental para o ensino médio.
Pergunta:
Como era para conciliar essas duas coisas? Tranquilo?
Resposta:
Eu sempre tive muita facilidade em absorver o conhecimento apenas em escutar a explicação dos professores, então eu conseguia dimensionar e trabalhar meu tempo de maneira a dar sequência nos estudos e trabalhar, não era algo penoso não, até me agradava bastante.
Pergunta:
E essa representação estudantil também? Quer dizer, é a terceira tarefa do dia.
Resposta:
Sim. Sim. Mas eram reuniões que aconteciam uma vez por mês e que não tomavam muito tempo, até porque eu sempre fugi do político partidário, eu gostava de fazer atuação em terra na instituição, buscando atender aos pleitos dos estudantes da minha sala, das salas próximas... Mas eu me lembro de que lá no ensino médio eu não tinha fortemente uma função política partidária, era mais algo interno, então dava para conciliar de uma forma em que eu conseguisse levar bem todos os seguimentos. Ai voltando das lojas de parafuso, a Sparfuso, surgiu uma oportunidade na Tognato, como Office boy, fiquei nove meses como Office boy e surgiu uma vaga no departamento de pessoal e eu fui promovido a auxiliar de departamento de pessoal, isso em um período total de um ano e oito meses. Meu tio trabalhava na UNIBANCO, eu estava para entrar na universidade, pensando no que fazer e ele levou o meu currículo. Eu fiz algumas entrevistas e consegui a vaga de assistente de gerente. Durante dois anos... Também... É sempre muito clara a área de atendimento, relacionamento com o cliente, eu acho que isso fez com que eu me condicionasse a criar habilidades de dar um bom atendimento, resolução de conflitos, buscar alternativas para saciar a necessidade daqueles que eu atendia. E trabalhando na UNIBANCO, dentro da Basf, eu dava atendimento direto para os coordenadores, funcionários, gerentes e tudo mais, e depois de um ano e meio na UNIBANCO, surgiu à oportunidade de uma entrevista de estágio na área financeira. Participei da entrevista, passei, só que o meu coordenador de curso na época da Metodista da engenharia, ele falou que não ia assinar o estágio porque ele acreditava que a área financeira não tinha relação com a área de engenharia de computação. Na época eu fiquei muito frustrado porque eu pensei: ‘Ah, perdi a oportunidade de atuar em uma área de uma grande empresa'... Hoje nós vemos diversos profissionais da área de engenharia atuando na área financeira, então eu realmente não entendi o posicionamento na época, mas acabou sendo positivo porque depois de quatro meses surgiu uma vaga como analista júnior, e o gerente que havia me entrevistado para o estágio, falou: ‘Paulo, não deu certo o estágio, mas agora eu tenho uma vaga de abalista para você' e aquilo foi realmente uma vitória, uma conquista... Na Basf eu fiquei por uns dez anos, de 2001 até 2011, e foi um período bastante enriquecedor, formalmente falando.
Pergunta:
Como foi essa decisão de encerrar o curso, quer dizer, parar a engenharia deve ter sido uma decisão muito difícil...
Resposta:
Foi um pouco complicado pela cobrança dos familiares. Nessa época meus pais já tinham voltado, porque eles ficaram uns tempos separados, juntos, e agora tem seis anos que eles se separaram novamente. Então tinha uma cobrança muito forte, eles diziam que: ‘Ah, não é possível, você já gastou um valor muito alto, investiu um valor muito alto, faltam apenas três anos... ' - de um total de cinco - "... para terminar, não faça isso', eu falei: ‘Mas e a minha felicidade onde fica nisso tudo?' ... eu não estava estagiando, já estava como analista, então eu não dependia daquele curso para me manter na empresa. Eu segui meu instinto, meu coração e falei: ‘Eu respeito vocês pais, mas como eu estou pagando a faculdade, eu vou fazer essa mudança' e foi quando eu comentei né, que acabei prestando dois vestibulares e foi quando iniciou essa relação de amor... Ódio não, só amor e alguns percalço pelo caminho [15'], mas que hoje eu sei valeu a pena ter feito essa decisão, nem passava pela ,minha cabeça que eu seria advogado, que em dia ia ser ouvidor de alunos, depois chefe de gabinete da reitoria... Mas creio que os acontecimentos e as minha criação enquanto aluno, minha criação enquanto aluno, enquanto representante infantil do DCE, fizeram com que o atual reitor, professor Bassi, enxergasse na minha pessoa alguém hábil e capacitado para criar o setor de alunos de ouvidoria de alunos e depois de quatro anos desenvolvendo esse trabalho, surgiu a oportunidade como chefe de gabinete da reitoria.
Pergunta:
Qual a visão que você tinha da USCS do lado de fora? Quer dizer, naquele momento ali, morador do ABC, conhecedor da região, mas ainda não estando do lado de dentro vivendo a USCS. Qual era a visão que você tinha da universidade naquela época?
Resposta:
Vou ser sincero. A opção pela USCS foi pela localização, pela proximidade. Na época ouvia-se muito em relação ao direito, a qualidade da faculdade de direito de São Bernardo... Ouvia-se muito da Metodista por ser uma universidade bastante conhecida... E o que me levou a prestar, além da localização, foi a informação de que o curso de direito estava sendo muito bem formado, com nomes como o do Doutor José Maria Trepat, a equipe que ele vinha formando, Estela Bonjardim, o próprio professor "Senger", uma figura caricata... Então foi um curso bem formado e que em nossa época ele chegou a estar na oitava posição entre as faculdades de direito no estado de São Paulo... Então eu vim conhecer a USCS, a sua qualidade, a sua estrutura, o quão bom são os professores, a partir do momento em que eu passei no vestibular, mas a priori eram apenas suposições.
Pergunta:
E quando você chegou... Legal, você fez o vestibular, decidiu por se matricular na USCS e como foi esse primeiro contato com a universidade?
Resposta:
Foi muito positivo. O curso de direito, o primeiro ao foi realizado no campus Barcelona, depois acabou mudando aqui para o campus Centro... Eu me lembro de que o universo, o ambiente era muito diferente da engenharia. Enquanto na engenharia os colegas eram muito lógicos e metódicos, no direito eu encontrei amigos mais extrovertidos, engraçados, com perfis psicológicos totalmente diferentes e quando eu entrei e tive acesso a isso, além do ambiente muito positivo, daquele campus muito alegre que é o Barcelona, eu falei: ‘É. Eu realmente fiz a escolha certa. É aqui que eu quero permanecer durante a minha graduação e, quem sabe em uma pós-graduação', era o que eu pensava naquela época.
Pergunta:
Como o curso de direito ajudou no desenrolar da sua carreira profissional e pessoal?
Resposta:
Eu fiz um comentário hoje durante a palestra: ‘Ainda que os cargos que eu tenha tido, as carreiras que eu tenha desenvolvido, não sejam carreiras especificadamente jurídicas, a formação em direito me deu toda a base para desenvolvê-las. Por exemplo, enquanto analista financeiro na Basf, em algum momento eu cuidei da parte de garantias reais, fianças e alienações fiduciárias, que é uma matéria muito forte no direito empresarial. Então a base que eu tive no direito empresarial me permitiu desenvolver essa escala de garantias que sustentavam a concessão de crédito dentro da empresa. Em relação à ouvidoria foi a mesma situação, os princípios de isonomia, imparcialidade, as aulas de mediação de conflitos, foram fundamentais para que eu desse um atendimento de qualidade para que buscassem resolução de situações com fundamentação, então tenho certeza de que foram fundamentais e continuam sendo agora, enquanto chefe de gabinete, a partir do momento em que eu estou desenvolvendo convênios, acompanhando sindicâncias e processos administrativos, totalmente ligados ao direito administrativo [20'], alguns pontos do direito penal... Então, foi... Eu também sou advogado, acabei obtendo a OAB, mas hoje não tenho tempo hábil para desenvolver as duas atividades, mas eu posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que a formação em direito me deu a capacidade necessária para desenvolver toda a minha carreira jurídica independente... A minha carreira não jurídica independentemente do cargo em que eu estive locado em todo esse período.
Pergunta:
Como você definiria a USCS para alguém, que não a conhece ainda por dentro, que está nesse período, procurando alternativas para o ensino superior?
Resposta:
Eu definiria como uma universidade, uma instituição séria, com profissionais altamente qualificados, com professores dispostos a te auxiliar, seja na parte acadêmica, quanto na área profissional, é uma faculdade com a gestão totalmente direcionada à busca pela excelência, temos uma estrutura que não deve nada em outras instituições - falo em estrutura física - salas com qualidade de projeção virtual, cadeiras estofadas, wi-fi disponível... Eu sou suspeito porque eu amo essa instituição, mas eu diria que é um lugar... Não perfeito, mas que busca a equalização dos poderes, o aluno e o professor tem espaço para se posicionar e para contribuir com o crescimento da instituição, então eu defino como uma instituição que busca excelência por meio dos posicionamentos do público que a acompanha, por isso é um local extremamente saudável e capaz de te dar uma felicidade em diversas áreas, tanto na busca por conhecimento, quanto na convivência e formação de grupos de amigos e tudo mais.
Pergunta:
Você tem toda essa experiência desde os 12 anos ___________________________...
Resposta:
Sim...
Pergunta:
Do colégio ainda né... Fala um pouquinho da experiência que você teve na USCS junto ao DCE.
Resposta:
Foi uma experiência muito rica. A nossa gestão esteve à frente do DCE durante cinco anos, chamada Alfa, foi até algo que na época eu criei a sigla: Aliança, Liderança, Força e Atitude, que gerava o nome Alfa... Eu vejo que foi um período de crescimento pessoal muito forte, visto que além do desempenho das atividades profissionais fora da instituição e o ganho de conhecimento acadêmico na sala de aula, por meio do DCE eu tive acesso a projetos sociais, ao desenvolvimento de atividades complementares dentro da instituição, eu tinha a possibilidade de negociar com a reitoria e com a pró-reitoria mudanças que seriam benéficas para o corpo discente naquela época, por exemplo, por dois anos consecutivos, nós conseguimos o congelamento das mensalidades, isso por meio de negociação, da formação de grupo junto a representantes de sala. E eu me lembro de que em um ano tive até uma discussão um pouco forte com o professor Marco Antônio, que era o nosso antigo reitor, que em um momento da negociação ele falou: ‘Não vai ter congelamento das mensalidades esse ano', e eu virei para ele e falei: ‘Professor, caso não tenha congelamento, pode ser que a faculdade venha a parar novamente', aí ele virou e falou: ‘Isso é uma ameaça?' e bateu a mão na mesa, eu falei: ‘Não. É só um aviso, porque eu acho que o senhor deve repensar e avaliar a possibilidade para que nós cheguemos a um consenso e que não haja necessidade de uma parada da instituição. ' E acho que a partir de ali, criou-se uma relação de respeito, abertura sempre voltada à busca... Claro que não adianta também chegar a um resultado que seja apenas benéfico para os estudantes, tem que ser algo que não vá gerar um problema para a instituição, mas foram anos muito positivos e que algumas vitórias foram essas: congelamento de mensalidade, redução abaixo do índice de inflação... Na época nós já brigávamos para que as cadeiras fossem estofadas, fossem ampliados os [25'] aparelhos projetores para todas as salas, que todos os alunos tivessem acesso... Além dos cursos complementares, quando alguma aula de algum professor não cumpria toda a ementa, nós buscávamos esse completo com a faculdade... Então foi algo que me enriqueceu muito como pessoa por isso, por ter acesso a alta cúpula da instituição, por defender os interesses de um grupo específico, sempre participar de reuniões decisórias visando à negociação, a busca de consenso... Isso me fez uma pessoa mais preparada e qualificada para o mercado de trabalho, certamente.
Pergunta:
Você teve experiências como aluno da USCS, não só da graduação, mas também da pós-graduação...
Resposta:
Sim...
Pergunta:
Queria que você falasse também sobre esse seu outro momento da vida estudantil.
Resposta:
Assim, eu comecei uma pós-graduação em direito tributário, infelizmente não terminei, pode ser que agora eu venha finalizar... No ano de 2013 eu iniciei o mestrado em comunicação, aqui na instituição também, na qual eu conheci pessoas maravilhosas, o meu orientador, professor Gino Jacobini, ampliou a minha mente em diversos sentidos, porque vindo do direito para fazer um mestrado em comunicação... As áreas são muito diferentes, então algumas vezes eu me sentia perdido, porque havia os pensadores, pesquisadores da área de comunicação que eu nunca tinha ouvido falar, e o professor Gino foi fundamental, assim como o Arquimedes, a professora Rossetti, dentre outros. Foi um aprendizado muito grande e que eu vou levar para a vida, e foi aonde eu consegui desenvolver o tema da ouvidoria, enquanto ferramenta de comunicação e inovação no ensino superior, esse foi o tema da minha dissertação, no qual eu tive a contribuição de gestores da instituição e também de estudantes, eles puderam contribuir com informações que corroborassem com a afirmação de que a ouvidoria atuava como uma ferramenta de comunicação e uma ferramenta de gestão. Agora temos alguns planos para o futuro, de repente essa de voltar para a pós Lato é uma, mas eu creio que o doutorado seja mais importante nesse momento, eu preciso parar para refletir com a minha esposa, já que agora eu não tomo mais as decisões de maneira individualizada, a opinião dela é fundamental, mas estou muito feliz. Estou feliz em permanecer nessa instituição que me deu subsídios para crescer, para me tornar o que hoje eu sou. Espero contribuir para o crescimento dela muito mais, e que não sejam apenas quinze, sejam trinta, quarenta e cinco anos, quem sabe aí, muitos pela frente, afinal agora eu acho que não vai ser mais possível se aposentar com [risos] 35 anos de contribuição, então temos muitos anos pela frente para contribuir com o crescimento e crescer também com as relações instituídas com os colegas de trabalhos, com os estudantes... É isso que eu espero para a minha vida daqui para frente.
Pergunta:
Você ter citado que não toma uma decisão unilateralmente, faz a gente não precisar cortar né, porque a gente precisa perguntar isso depois para o entrevistado, mas geralmente tem algo: ‘Ah, tira esse trechinho aqui', mas agora a gente vai poder entregar na íntegra...
Resposta:
Perfeito. [risos]
Pergunta:
Já para finalizar uma parte, como você falou, são 15 anos na universidade, você deve ter várias memórias, vários dias, vários acontecimentos especiais no decorrer de toda a sua trajetória aqui na USCS... Tem como você falar o que lhe vem à mente, quer dizer, alguma coisa que aconteceu ali, seja em aula, seja já como chefe de gabinete, alguma coisa que te marcou mesmo, que seja engraçada...
Resposta:
Eu vou comentar um acontecimento, um evento que foi bastante marcante: um show do teatro mágico, que nós realizamos para a comemoração dos 45 anos da instituição, foi todo um processo de negociação, de formatação de contratos... Porque nós somos uma autarquia municipal, então não é tão simples contratar um evento como uma empresa privada. Então depois de todo o esforço gasto em relação a isso, chegamos no dia do evento com uma estrutura montada, a equipe formada por alunos, [30'] todo o apoio da área de comunicação... E faltando trinta minutos para o evento, a faculdade estava vazia, e aí me veio à mente: ‘Nossa! Será que todo esse esforço foi em vão? Acho que eu comecei mal o meu trabalho como ouvidor' - Porque eu estava seguindo na ouvidoria - ‘Eu vou ser questionado por isso. ' mas isso é o de menos, eu queria que nós tivéssemos uma festa de 45 anos realmente marcante e emocionante, e nos trinta minutos finais surgiu gente de lugares inimagináveis. Vocês conhecem o campus Barcelona? Sim? O palco foi montado naquela rua atrás do banco Santander. Na hora que eu vi aquele mar de pessoas, quatro toneladas de alimentos arrecadados para serem distribuídos para o fundo social de São Caetano, uma energia positiva, as pessoas felizes por estarem ali comemorando os 45 anos da instituição e a sensação de dever cumprido, é algo que é difícil até expressar, foi um dos dias mais felizes na minha vida. Esse misto de sentimentos em 30 minutos, como as coisas podem mudar em um curto espaço de tempo, em trinta minutos eu estava completamente decepcionado achando que não tinha valido a pena todo aquele esforço e depois de trinta minutos, a certeza e a sensação de dever cumprido e de que seria o primeiro ano como trabalhador de muitos que viriam pela frente e que muitos outros eventos em comemoração aos cinquenta, cinquenta e cinco, sessenta anos, viriam e eu participaria daquilo. É um momento que eu compartilho agora, que realmente fez a diferença e foi um dos dias mais felizes da minha vida.
Pergunta:
Paulo... [outra entrevistadora pergunta ao Luciano se pode fazer uma pergunta e ele prontamente responde que sim] Em qual momento que você saiu... Você saiu da Basf e veio para cá?
Resposta:
Não.
Pergunta:
Teve algum...
Resposta:
Teve um _______. Eu saí da Basf e fiquei oito meses fora do país, eu morei na Austrália. Foi um tempo maravilhoso, em que eu conheci pessoas do mundo todo, culturas diferentes... Fui para lá pelo seguinte sentido: na Basf a minha carreira estava estagnada pela falta de idioma, até então eu nunca tinha estudado, eu estava com 29 anos na época... E também foi uma decisão muito complicada, porque a família e os amigos: ‘Você é louco? Você vai sair de uma empresa depois de dez anos? Como vai ser o futuro?', eu falei: ‘Não importa. ', eu não estava mais feliz com a situação, aquilo estava tornando os meus dias tristes, eu ficava angustiado porque eu sabia que tinha capacidade para ir além. Então esses oito meses fora do país foram fantásticos, eu cresci demais em cultura, não falo fluentemente, mas tenho hoje a capacidade de estabelecer uma conversa no idioma inglês, e quando eu estava na Austrália, recebi uma mensagem do professor Bassi pelo Facebook: ‘Eu tenho uma ideia, Paulo. '- Na época ele ainda era diretor financeiro, ele estava cotado a assumir a reitoria, e falou: ‘O trabalho que você fez enquanto presidente do DCE, eu imagino que ele possa ser feito em uma esfera ampliada se for algo institucional, pela universidade. O que você acha de montar uma ouvidoria do aluno?', eu falei: ‘Professor, eu acho perfeito, acho que podemos tentar. Só te peço uma coisa, que seja uma ouvidoria autônoma, que não seja uma ouvidoria para inglês ver. Não adianta eu montar um departamento voltado a entender a situação do aluno, se for apenas para entender e não tomar nenhuma resolução. A USCS é uma instituição que cresce ano a no, mas ela tem um ranço histórico bastante conservador, no qual o posicionamento dos professores era quase que lei, e nós estamos em outros tempos. Hoje em dia a isonomia... Nós temos que buscar a isonomia, temos que buscar a equalização de posicionamentos, não é atuar de maneira sem fundamento, se o aluno tem razão na reclamação de um não cumprimento de uma grade ou a não prestação de serviço, feliz ou infelizmente, hoje, a relação educacional vai além da parte acadêmica, hoje há uma relação de consumo', então foi isso que eu pedi para ele: [35'] ‘Eu quero autonomia de fazer um trabalho real, não que seja uma ouvidoria para inglês ver', ele falou: ‘Você vai ter essa autonomia', e realmente ele me deu e eu creio que houve realmente uma equalização de poderes, hoje o aluno tem voz dentro da instituição por meio da ouvidoria, por meio acesso direto ao reitor, que nós criamos essas reuniões bimestrais entre representantes e reitor, porque também muitas coisas não chegavam à reitoria, elas ficavam represadas em instâncias inferiores, já com essa reunião mensal, se o representante de sala fizer um bom papel junto aos seus colegas de classe, as informações chegarão e aí caberá ao reitor e ao ouvidor determinar planos de ação junto às demais esferas de ação da instituição, de curto, médio e longo prazo, para a resolução desses problemas. Então teve esse período entre sair da Basf e começar aqui na USCS.
Pergunta:
Você pediu demissão da Basf?
Resposta:
Pedi demissão. Pedi demissão.
Pergunta:
Pediu demissão... E como foi a sua ida para lá? Já tinha alguma coisa planejada?
Resposta:
Nada... [risos]
Pergunta:
Foi para trabalhar?
Resposta:
Nada planejado. Falei: ‘Deixa a vida me levar', entendeu...
Pergunta:
Mas você ficou na casa de alguém?
Resposta:
Eu saí da Basf e levei quatro meses para planejar essa viagem. No primeiro mês eu fechei uma acomodação que eles chamam de Chair acommodation, que ficam pessoas divididas em quartos e que compartilham as áreas comuns da casa, banheiros, salas... E cada um tem um dia, há um cronograma de limpeza, arrumação e tudo mais... Então nesse primeiro mês eu acabei fechando, sem saber como seriam os meses subsequentes, e fechei um semestre do curso de inglês. Eu fui com a cara e a coragem. Não falava inglês e o pouco que eu tinha aprendido tinha sido no ensino médio, que é o verbo To be, não vai muito além disso, e com quinze dias eu consegui um emprego em uma churrascaria chamada Brasa, uma churrascaria brasileira. Foi muito positiva porque eu não tive que gastar o recurso daqui, o que eu ganhava enquanto passador, porque eu passava o espeto e servia os clientes...
Pergunta:
Chegou a picanha ou ficou só na ________?
Resposta:
Não... [risos] Eram 21 tipos de carne, passava picanha sim...
Pergunta:
A picanha ____________?
Resposta:
Na verdade, os melhores passavam a picanha. Mas foi uma situação engraçada que eu até vou compartilhar com vocês... Eu conversava bastante com os clientes, claro que no começo não, só depois de um tempo que eu já tinha conseguido estabelecer essa conversação, e os demais passadores ficavam bravos porque eu "perdia" muito tempo na mesa dando atenção para os clientes, mas a gerência do restaurante gostava, porque falavam: ‘Não, Paulo, pode continuar conversando, porque isso faz com que o cliente se sinta familiarizado, se sinta bem recebido e que ele volte', então eu estava entre a cruz e a espada, contava com a felicidade do gerente do restaurante e com ódio dos demais passadores que falavam: ‘Pô, esse cara não trabalha, esse cara só fica conversando', até que os gerentes demonstraram: ‘Não, olha... A conversa do Paulo fez com que... ' - eles chamavam de efeito tips, o Tips Effect, em que Tips seriam as gorjetas. Eles colocaram uma antes e um depois da minha atuação perante aos clientes e aumentaram 40%, ai eles falaram: ‘Deixem o Paulo conversar!'... Porque era divido, né. Tiveram casos em que o cliente falou: ‘Olha, Paulo, cinquenta dólares', e eu disse: ‘Não. Não quero para mim. Coloque no pote das gorjetas porque isso vai ser dividido entre o pessoal do ‘Flor'... ' - que seriam os passadores- ‘...e o pessoal da cozinha.', então isso foi uma experiência muito legal, e além disso, eu vejo e recomendo para quem tenha essa vontade de ir para fora, a qualidade de vida. Eu estudava pela manhã às 6h e trabalhava por quatro horas à noite, então eu tinha boa parte do tempo livre para vivenciar àquela maravilha de país, a natureza, as pessoas... Realmente foi um tempo maravilhoso, só que foi... [40'] Eu cumpri lá o meu objetivo e sabia que eu tinha que exercer uma profissão diferente aqui no Brasil, demérito nenhum, foi realmente um período muito feliz, mas eu queria voltar ao Brasil para fazer algo relacionado ao direito ou, ainda que não relacionado ao direito, com a base que eu tive do curso. E aí o convite do professor Bassi acabou sendo providencial para a montagem da ouvidoria, eu aceitei de pronto, apenas com aquela ressalva de que eu teria autonomia para desenvolver um trabalho real.
Pergunta:
Bom, como eu ia falando... Tem mais alguma coisa? [Luciano refere-se à outra entrevistadora, que prontamente responde que tem mais algo sim].
Você chegou a ser aluno do EAD também... Não sei se você ainda é...
Resposta:
Eu sou!
Pergunta:
Você é?
Resposta:
Sim, eu estou fazendo.
Pergunta:
E essa experiência?
Resposta:
É diferente. É diferente porque você precisa se policiar você precisa se condicionar, separar algumas horas do seu dia para desenvolver as atividades, porque diferentemente do presencial, você não tem àquela obrigação de estar todos os dias, de tal a tal horário, de frente com o professor e tudo mais. Eu venho aprendendo muito, estou fazendo EAD em administração... Confesso que eu deveria separar mais horas do que as que eu separo diariamente, mas tenho dado o meu máximo. A estrutura do nosso EAD é muito boa, é interativa, permite que os alunos tenham um contato com os demais estudantes e o chat com os professores, as vídeo-aulas são boas, claro que tem espaço para melhorias, visto que alguns professores têm amis facilidade em lidar com a câmera e outros não. O conteúdo escrito, ou o conteúdo impresso disponibilizado em PDF é bastante completo, eu acho que vai ao encontro do que é disponibilizado também na presencial, e o EAD é o futuro. Eu acho que a gente não pode descartar que daqui para os próximos anos, a tendência é de que se aumente cada dia mais o número de alunos para essa modalidade de ensino. Apesar de para o brasileiro ser difícil de ter essa disciplina, de entrar de tempos em tempos no horário específico em que o professor vai estar lá para o chat, cumprir... Falo por mim, mas eu creio que seja meio generalizado, não é fácil, mas é uma tendência mundial.
Pergunta:
Acho que quando você falou que você não tem muita facilidade de ouvir... Falta um pouco isso né?
Resposta:
Falta.
Pergunta:
É uma questão de perfil mesmo.
Resposta:
Falta. Falta sim. Mas eu tenho tirado boas notas, a P1 e P2 são suficientes, não tenho necessitado de P3. [risos]
Pergunta:
A gente vai encerrar... A gente está em um ano que o curso de direito completa o seu vigésimo ano, né, e ano que vem a USCS completa cinquenta anos... Queria que você falasse um pouco sobre essas datas e sobre o curso de direito e a USCS como um todo, o que isso representa na sua vida e o que mais você quer deixar ai de memória para esse projeto de memória para a universidade.
Resposta:
Perfeito. Sobre o curso de direito, eu espero que ele retome os tempos áureos, nos quais no passado, como eu havia dito, nós nos posicionamos em oitavo lugar, como a oitava universidade de São Paulo em direito, hoje infelizmente a realidade não é muito positiva, ainda que tenhamos ótimos professores, uma estrutura adequada, os resultados não tem sido os mais esperados, mas eu tenho comigo que com algumas ideias planejadas pela nossa pró-reitoria de graduação, em breve nós voltemos a ter um resultado mais adequado, até porque é um curso fantástico, composto por... Eu vou ser repetitivo, mas é necessário, por um corpo docente altamente qualificado e não é possível que com a estrutura que nós temos, com o material humano disponibilizado, nossa posição não esteja dentro daquela que esperamos. E sobre os cinquenta anos da USCS, que seja uma data comemorativa que sirva de fomentação para novas ideias, novos projetos, desenvolvimento de novos cursos... Para que daqui cinquenta anos nós possamos nos encontrar novamente [45'] e verificar que a USCS cresceu, chegou a um patamar melhor do que o que hoje ela se encontra, que é um patamar muito positivo, com mais de trinta cursos, três campi, o curso de medicina que nos trouxe uma visibilidade diferenciada... Isso é o que eu espero, que a universidade cresça, evolua cada vez mais e que... Não precisamos ir tão longe, vamos esperar que no momento de comemorar os cinquenta e cinco ou sessenta anos, só tenhamos coisas positivas a falar dessa instituição que fez, faz e fará a diferença na vida de muitas pessoas hoje e sempre, é isso.
Pergunta:
Algo mais que você queira acrescentar?
Resposta:
Não. Só isso... E agradecer a oportunidade, nem sei se mereceria a honra de poder gravar um depoimento já que nós temos muitas pessoas importantes que já passaram por aqui, então me sinto honrado e feliz de ter essa oportunidade, espero que agregue a esse projeto de cinquenta anos que está sendo muito bem tocado, muito bem administrado e gerido pela área de comunicação. Parabéns e obrigado.
Lista de siglas presentes nessa transcrição:
UNIBANCO - União de Bancos Brasileiros.
IMES - Instituto Municipal de Ensino Superior.
UBS - Unidade Básica de Saúde.
DCE - Diretório Central de Estudantes.
EAD - Ensino à distância.
PDF - Portable Document Format.